segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Marasmo


Quando me olhei no espelho, tive a certeza: era a pessoa mais linda do mundo.

Com o cabelo espigado e embolado, saí sem vestir nada diferente ou que caracterizasse quem eu sou realmente: short jeans, camiseta listrada e meu chinelo gasto, que se acomodam ao formado do pé como nenhum outro.
Da pernas grossas a cabeça desproporcional, do cabelo escuro às unhas vermelhas descascadas, dos meus um e sessenta, com meus cinquenta e cinco, eu era toda eu mesma.
Uma menina comum, que nem sempre é vista por muita gente quando sai de casa.
Não vou saber quem, mas uma dessas pessoas me olhou e pensou: essa é a mulher mais bonita de todo o mundo.
Por mais humilde que eu fosse não pude deixar de concordar. Nem meu corpo desajeitado, nem minha sobrancelha assimétrica, nem meu cabelo fino e ralo puderam me ajudar a não ser a pessoa mais linda do mundo. Nem que eu quisesse evitar poderia, por que toda minha beleza estava incutida dentro daquela pessoa, não em mim enfaticamente.
Quando julgo se alguém é feio ou bonito, nunca digo algo sobre ela, e sim sobre eu mesma.
O conceito de feio e de bonito é o que eu trago aqui dentro da alma.
Minha tia comia quando era criança, uma pizza de massa caseira, que ninguém sabia fazer igual. Eu hoje como pizza congelada da Sadia na melhor das hipóteses, essa mesma que você compra... idêntica a minha, padronizada. Querem que todas as massas de todas as pizzas Sadia sejam iguais.
Se impõe estereótipos até nas pizzas, o que dirá a beleza ? Querem que sejam todas iguais também. Querem que os conceitos sejam os mesmos, que o que é belo para um seja belo para outro, anulando o poder da individualidade, dessas que não se compra em potinhos mágicos da beleza e nem se encontra nos bisturis.
Tudo começa com a insegurança de se assumir, alimentando uma indústria de consumo que ideologicamente promete deixar as pessoas mais próximas desse padrão. Assim plantam sementinhas pré-fabricadas que ditam o que é feio e o bonito.
Nem eu e nem você, conseguimos passar um dia se quer sem ter o ditatorial capitalismo dizendo o que é belo e o que não é. Vou fugir desse marasmo.

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